quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O drama da Casa de Deus.

Ezequiel estava recebendo visitantes ilustres nesse dia. No entanto, eles não viviam dias de visitas amigáveis e longas conversas cordiais. Por toda a cidade de Jerusalém se exalava o aroma do medo, e os anciões de Judá eram um quadro vivo desse temor.

Não havia sorrisos, todos os semblantes estavam fechados e as palavras eram pronunciadas quase em tonalidade sussurrante. Todos temiam pelo futuro de Jerusalém e da nação judaica. O próprio Jeremias já havia profetizado dias negros para a nação dos descendentes de Abraão. Na verdade, ele meditava sobre esses oráculos quando ele chegou...


Primeiro veio o resplendor, como se um sol houvesse sido aceso naquela sala, a luminosidade era tão intensa que tornou as figuras dos anciãos opacas como miragens do deserto. Quando os seus olhos se acostumaram com a claridade, o profeta pôde contemplar o seu visitante. Um ser humanoide que parecia arder em chamas da sua cintura para baixo, e dali para cima sua aparência era tão brilhante como metal reluzente.

O enviado de Deus estendeu a sua mão flamejante e agarrou os cabelos do profeta. Curiosamente, Ezequiel não se preocupou, não havia calor e não houve dor quando ele foi erguido pelo cabelo. Ezequiel entendeu que estava tendo uma visão divina.

O arauto do profeta alçou voo, ambos atravessaram o telhado da casa de Ezequiel e em poucos instantes eles estavam pousando diante da entrada norte do templo em Jerusalém. O homem de Deus logo reconheceu a glória divina presente em uma de suas visões anteriores. Ele ainda estava admirado com todas essas coisas quando o seu guia falou pela primeira vez:

- Filho do homem, levanta, agora, os teus olhos para o caminho do norte.

Ao olhar na direção indicada o profeta viu a imagem construída em homenagem a Astarote, uma divindade pagã ligada à fertilidade. A simples presença de uma imagem no templo era um ultraje ao Deus vivo de Israel. Quem em plena consciência ousaria trazer costumes profanos para dentro da casa de Deus? Percebendo a indignação do profeta, o arauto disse:

- Filho do homem, vês tu o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me afaste do meu santuário? Mas verás ainda maiores abominações.

Mais uma vez eles se moveram, agora na direção da porta do átrio do templo. Ezequiel percebeu que havia um buraco na parede diante dele. Com espanto ele recebeu a ordem de escavar essa parede, contudo, bastou ele começar a cavar com as mãos para perceber que a parede esfarelava-se, deixando um grande monte de pó os seus pés.

O buraco se transformou em uma passagem, ao entrar ele percebeu que as paredes do recinto eram cobertas de imagens em alto relevo de vários falsos deuses. E ali também estava setenta dos homens mais importantes da nação, cada um com um incensário, prestando culto aos deuses dos gentios.

Insensatos! Desde quando os líderes do povo haviam se desviado ao sincretismo? Será que eles pretendem levar essa loucura para fora dessa sala, ensinar ao povo de Deus?

- Viste filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem nas trevas, cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? E eles dizem: O SENHOR não nos vê, o SENHOR abandonou a terra. Tornarás a ver ainda maiores abominações do que as que estes fazem.

Diante da porta da casa do SENHOR havia mulheres assentadas e chorando em alta voz, cada uma possuía um ramo de cedro. De tempo em tempo, elas levavam o ramo até as narinas e aspiravam, um gesto típico do pseudo-culto em adoração a Tamuz.

Ezequiel observou o seu companheiro celeste, mesmo com todo o esplendor de sua aparência, o seu semblante era de tristeza e decepção ao observar aquelas mulheres. Como elas poderiam depositar esperanças na utilização daqueles objetos banais como forma de culto? E pior, como elas poderiam ignorar a presença da glória de Deus naquele templo?

O profeta foi levado para o átrio interior, e havia cerca de vinte e cinco homens de costas para o templo, encurvados em direção ao oriente e adorando o sol.

Ezequiel chorou. Aqueles homens representavam uma parcela significativa do povo. Tão pertos de Deus, mas que escolheram virar as costas para Ele. Aquele templo já não era o local onde os adoradores se reuniam para louvar a Deus em uma só voz, ele havia sido transformado em um panteão onde vários deuses eram adorados: O orgulho, a avareza, a inveja, entre tantos outros...

Ezequiel continuou vendo como Deus iria retirar a Sua presença de Jerusalém e começar uma limpeza moral no meio do seu povo. Também estava claro que essa mudança tinha um endereço certo para começar: A casa de Deus.

(Dramatização do capítulo 8 do livro de Ezequiel)

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